quinta-feira, 28 de maio de 2015

Manipular a mente em 10 passos


Ao início deste mês, podem confirmá-lo, o gigante Noam Chomsky esteve em Portugal. Com grande pena, esta Encantadora não esteve lá, na Fundação Calouste Gulbenkian. O que não me impede me debruçar sobre a as ideias deste gigante de 86 anos, o qual afirmou (e continua a afirmar) que a opinião pública pode e é controlada segundo 10 princípios, extremamente simples. 
As formigas que quiserem permanecer no carreiro da ilusão reconfortante, oferecida em toneladas de informação pelos média, não leiam a seguinte lista: 

AS DEZ ESTRATÉGIAS PARA A MANIPULAÇÃO E O CONTROLO DA OPINIÃO PÚBLICA (adaptadas da lista de Chomsky):


 1) DISTRACÇÃOhá que fornecer aos carreiros de formigas montanhas de informações secundárias: gatinhos salvos pelos bombeiros, batalhas de chefs da alta cozinha, entrevistas a formiguinhas ao sol na praia e, pois claro, muitas, mas muitas peças sobre futebol. A segunda parte do plano é espremer, em blocos muito pequeninos, temas como arte, ciência e tecnologia, tornando-os meros intervalos entre as notícias ditas "importantes". Objectivo principal: consumirmos apenas no que não interessa à nossa evolução.


2) MÉTODO PROBLEMA-REACÇÃO-SOLUÇÃO: abrir as notíciário com um problema ou uma situação de emergência social (se não houver, há quem invente algum), lançando-se a semente para uma reacção pública em grande escala. Surge, então, uma formiga "salvadora", a qual impõe medidas para fazer desaparecer o problema. O caso mais gritante foi o nosso Governo, ao arrepio da "crise económica", fazer desmoronar os edifícios essenciais, como a Saúde, a Educação e a Justiça. O mais assustador  é que a "situação de emergência" já estava pronta a servir, bem como as respectivas "soluções".

3) GRADAÇÃOapanhados no sono da consciência, assistimos à  aplicação de medidas que, caso estivéssemos mais alertas, jamais deixaríamos passar como brancas nuvens, dada a impopularidade das mesmas. Gradativamente, de forma imperceptível, são-nos retirados os direitos. Quando acordamos, acordamos desempregados ou a trabalhar mais horas por cada vez menos contrapartidas salariais. "Portugal tem salários competitivos", disse uma vez Teixeira dos Santos. Na modesta opinião desta Encantadora, os salvadores da Pátria não passam de psicopatas sociais.

4) SACRIFÍCIO FUTUROpreparar a resignação das massas, com vista a aceitação de uma premissa, obviamente nefasta, como aquela de se cortarem nas pensões para assegurar a sustentabilidade da Segurança Social. A promessa deste e outros serem  "sacrifícios necessários" para o Futuro dá-nos a esperança (ilusória) de que os mesmos serão minimizados. Quando as vozes indignadas se silenciarem, já no próximo Inverno os indivíduos mais vulneráveis estarão em risco de morrer de frio. Uns por falta de pagamento da electricidade, outros porque passaram a viver na rua.

5) DISCURSO PARA CRIANÇASfalam-nos como se fôssemos crianças ou deficientes intelectuais, com base no discurso gasto de que "tudo irá correr bem caso fizeres assim ou assado". Se repararem, os nossos políticos, estejam ou não no poleiro, tratam-nos com insidioso paternalismo. São os beijinhos nas bochechas das feirantes, o sorriso+festinha na criancinha institucionalizada, os apertos de mão aos doentes deitados (há horas) em macas de corredor, actos que obtêm, em muitas formigas desatentas, uma resposta emocional compatível.

6) SENTIMENTALISMO E TEMORnuma das minhas viagens aéreas, um comissário de terra tratou-me, à vista de um carreiro de passageiros, como potencial terrorista. Colaborar civicamente na verificação das bagagens é uma coisa. Outra, é estar na porta de embarque e ser alvo de escrutínio. O funcionário, sem o saber, estava a tentar retardar a minha resposta emocional, atemorizando-me. Podia igualmente apelar ao sentimentalismo (a vida dos passageiros depende da colaboração de todos!), que o objectivo era o mesmo: controlar as minhas emoções inconscientes. Deu-se mal. Apresentei queixa à Companhia. Reagi quando não era suposto reagir. Saí do carreiro.

 7) VALORIZAR A IGNORÂNCIA E A MEDIOCRIDADEinverter a pirâmide do mérito e dar o máximo de tempo de antena a gente desqualificada, medíocre, inculta e ignorante. Realizar este intento é manter a capacidade crítica dos espectadores, principalmente dos mais jovens, no nível mínimo. A mediocridade dos habitantes da "casa dos segredos" foi o pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar dos nossos alunos. Não admira que as escolas se deparem com gente tão estúpida, quanto arrogante. Há quem se gabe de nunca ter lido um livro.

8) DESPRESTIGIAR A INTELIGÊNCIAnão raras vezes,  o "cientista louco" e o "nerd", personagens-tipo da ficção televisiva/cinematográfica, são apresentados como inadaptados, anti-sociais e perigosos, no extremo do estereótipo. Ora, nenhum jovem quer ser visto como anti-social, pelo contrário. Desprestigia-se a racionalidade e o sentido crítico, apresentando-os como exemplos a não seguir. Se juntarmos a esse factor (a despretigiação da inteligência) ofertas educativas de baixa qualidade para os pobres de espírito, estes sentir-se-ão plenamente integrados no "sistema". A moda é ser ignorante. 

9) INCENTIVAR E INCUTIR A CULPAquando o fracasso bate à porta, a culpa vem logo atrás. Para acentuar essa auto-culpabilização, os média oferecem-nos, em prime-time, a visão espectacular de "gente gira". A celebridade, a riqueza, ou até mesmo a beleza, apresentam-se em regime de exclusividade para meia-dúzia de indivíduos. Aos restantes, cabe o enorme espaço da resignação, reservada às formigas que trabalham, trabalham e quanto mais o fazem, mais derrapam para o anonimato, tendo como bónus a depressão. Julgam estas formigas "terem feito tudo mal", ao invés de agirem como a celebridade X ou Y. Caras formigas,  a solução reside na rebelião contra a injustiça social e económica. 

10) MONITORIZARpara um dado esquema resultar, há que monitorizar constantemente os seus factores e variáveis. Os donos do poder, utilizam as redes sociais, os avanços nas áreas de psicologia e neurobiologia, entre outras ferramentas do foro das ciências, para anteciparem e controlarem os nossos comportamentos. Essas formigas (que se julgam gigantes), julgam que nos conhecem melhor dos que nós nos conhecemos a nós próprios. Até certo ponto, sim. 

O Encantamento para hoje: liguem a TV à hora do telejornal. À luz das ideias de Chomsky, observem o que se desenrola no écran como se estudassem um mundo totalmente diferente. Usem também o "filtro Chomsky" quando alguém quiser impor uma medida impopular, seja no vosso formigueiro, seja no formigueiro vizinho. Caras formigas: não sejam vítimas. Recusem-se a sê-lo. Basta pensarem de forma crítica acerca das ideias que querem impor-vos. Depois, ajam em conformidade. Uma dica final: comecem por um livro de reclamações. Qualquer um serve.

2 comentários:

  1. Noto que quando estou uns dias afastado dos media consigo ter ideias mais próprias. Formigas, façamos retiros de reflexão.

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  2. Basta deixar a Tv no off...os retiros são o ideal.

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