quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Eu, Sócrates, Freud e Bridget Jones


«Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses» - Sócrates (470-399 a.C.)

"Livros de Auto-ajuda". Quem mais os lê, diz-se, são as meninas e senhoras formigas . Quanto aos nossos meninos e homens, com a educação - ainda reminiscente - de que «os duros não dançam», a tal propósito temos o sarcástico "não li e não gostei", o arrogante "eu sei tudo o que aí está, não preciso de ler" e o pior deles, o homúnculo, o qual não lê "livros para gajas". 


Ora, caras amigas formigas, mau-grado escusar-me de dormir com tais super-machos, decido agora ser advogada do diabo e relembrar o filme "O Diário de Bridget Jones". Neste, a personagem teme um destino de solteira até um dia acabar, segundo ela própria, «encontrada morta, meio-comida por Lobos-de-Alsácia». 
Numa das cenas finais, Bridget Jones (Reneé Zellweger) , reúne todos os seus livros de Auto-ajuda e, em pijama, vai enfiá-los no contentor do lixo. Golpe de teatro: do fundo da noite, regressa o namorado Mark Darcy (Colin Firth) e ambos fazem as pazes. Acção-consequência? Será que as coisas boas acontecem, não porque dominamos a arte de moldar a realidade na sua forma mais feliz, mas pela simples magia da imprevisibilidade? A ser verdade, ainda menos dominamos os acontecimentos lendo um punhado de opúsculos que nos ensinam, passo a passo, capítulo a capítulo, como devemos proceder até a câmara fazer zoom no par de lábios que se beijam. The End.

Acredito no Amor. Aliás, é a única coisa em que acredito. Contudo, como já o escrevi, hoje serei advogada do diabo. À semelhança de Bridget Jones, gastei bom dinheiro nesses livros-felicidade-pronta-a-servir. Em quantidade suficiente para me confundir a cabeça, o coração e o estômago, ao ponto de agora os querer ver reciclados. Só não imito a cena do contentor porque certa formiga amiga, sabendo da minha intenção drástica de me desfazer de todos eles, implorou que lhos oferecesse. Uiiiii. Já estou a imaginar as vossas expressões, formiguinhas-leitoras: afinal, de que lado é que ela está? Do dos super-machos? Apresso-me a responder: do lado de quem se conforma com o facto, cientificamente comprovado, de que mais de 90% das nossas decisões são tomadas, não pela razão, não pela vontade, mas pelo nosso inconsciente. 


Ora, qualquer livro, por melhor que seja, por mais vendas que faça, por maior prestígio do seu autor, NÃO consegue fazer K.O. ao nosso inconsciente. É uma luta desigual. Trata-se do mesmo inconsciente que nos obriga a repetir padrões. O mesmo que, segundo Freud, empurra os homens para parceiras parecidas com as mãe e às mulheres para homens parecidos com o pai.  Édipo e Electra, grandes tragédias gregas no palco do nosso inconsciente, capazes de agregar-nos em carreiros de fêmeas e machos, de onde apenas se desviam aquelas formigas que buscam o auto-conhecimento. "Conhece-te a ti mesmo", teria proclamado o filósofo Sócrates. Formiga, sai fora carreiro, sussurro-te eu.

Os meus livros de Auto-ajuda, por mim destinados à mastigação do carro do lixo, terão como destino outro formigueiro. Afinal e em prol da sinceridade, acho que atirar livros em contentores deveria ser considerado crime público. Mas digo-lhes adeus. A esta altura da vida horroriza-me ser manipulada por tal bibliografia. Cansei-me de tentar controlar o incontrolável, entregando-me, com alegria, à beleza da imprevisibilidade. O que não me impede de ajudar o inconsciente a trabalhar a meu favor e não contra o meu direito à felicidade. No caso da felicidade amorosa, aconselho estes 3 Encantamentos ancestrais:

  1. Ouvir a intuição: vive com a mãe, um gato paralítico e sete aranhas amestradas. Não sou psiquiatra! 
  2. Usar da racionalidade inata: casado e amante à hora de almoço. Nunca!
  3. Apreender com os 5 sentidos a verdade dos factos: falas aos berros num restaurante? Come tu a minha sobremesa!

Ou todos estes Encantamentos juntos e mais alguns que se vão aprendendo. Soa a trabalho de uma vida. Pois é. Se calhar, várias.


1 comentário:

  1. Gostei. Acreditar no amor, é acreditar por consequência, no sacrifício e em outros tantos valores. Os teus encamentos ancestrais são de grande mestria.

    ResponderEliminar

Comente este encantamento: